Oxalá
Presente na primeira linha de Umbanda, o Orixá do branco, da paz, da fé, da compreensão e da compaixão é sincretizado com a figura divina mais popular por entre as religiões. Por partilharem de simbolismos em comum, a imagem de Oxalá e Jesus Cristo são comumente associada, sendo a figura de Cristo com os braços abertos encontrada na maioria dos congás (Altar) de Umbanda, em posição de destaque.
Pai Oxalá rege o sentido da fé nos seres desenvolvendo sua atuação dentro do fator universal que é o amparo divino que toda pessoa que vibra positivamente no campo da regência do Orixá obtém.
Por exemplo: um sacerdote, um missionário ou qualquer ofício que exerça um trabalho bem-intencionado em prol da fé estará amparado pela face positiva da irradiação do Trono da Fé que estimula e encoraja os seres afins dessa qualidade de Deus.
Mistério da Fé
Dentro desse entendimento Oxalá corresponde ao espaço, a plenitude, é a primeira qualidade de Deus e é também o Orixá da criação. O filósofo e matemático francês René Descartes indagou durante seus estudos que só existimos porque pensamos – famigerada frase “Penso, logo existo“.
Bom, se usarmos o pensamento de Descartes dentro do entendimento do Orixá Oxalá encontramos um ponto de encontro, onde as realidades desse mundo só são criadas a partir do momento em que pensamos e acreditamos nelas e é nesse sentido que a qualidade da fé de Deus (Oxalá) se manifesta.
Nós concebemos nossa realidade a partir do momento em que ela se torna nossa verdade e, por conseguinte creditamos fé a ela. Na criação é esse o papel de Pai Oxalá, irradiar nos seres a capacidade de ter fé nas coisas e congrega-las em prol de um objetivo.
Pai Oxalá une as pessoas em uma mesma verdade ou doutrina e dá o exemplo de quem está à frente de um templo ou de uma religião.
Imagine: se todos estão no mesmo barco estão agregados. Agora, estaremos congregados a partir do momento em que remarmos todos para o mesmo lugar, por isso somos congregados em torno da Umbanda, estamos congregados na Umbanda.
Por isso além de emanar de si a fé, a Pai Oxalá também se credita o magnetismo congregador que está em tudo e em todos transitando em todos os outros mistérios e linhas de Umbanda.
Sem fé não há amor, sem amor não há um conhecimento real e verdadeiro, sem conhecimento não se aplica a justiça, sem justiça não existe lei, da mesma forma sem esses sentidos não existe evolução e muito menos geração.
Simbolismos
Representação de Oxalá africano com opaxorô.
O branco de Pai Oxalá simboliza a paz e também expressa a união de todas as cores (linhas de Umbanda) que como sabemos se fundem formando o branco.
O opaxorô também é um dos elementos que compõe a simbologia do Orixá, o cajado ornamentado traz na maioria de suas representações uma pomba branca no topo reforçando o conceito de paz, harmonia e boa nova.
Conexão com esse mistério
Todo lugar é ponto de força de Pai Oxalá, pois seu mistério está relacionado ao espaço, por isso para a realização de oferendas é recomendado lugares calmos e/ou campos abertos onde sua energia vibra com mais intensidade.
Para as oferendas é comum o uso de velas brancas ou douradas e frutas de polpa branca como coco verde, Pêra e melão, Mel e vinho branco também são bem-vindos! Quanto as flores deem preferência para as de cor branca com ênfase nas rosas.
As pedras desse Orixá são o cristal ou o quartzo que remetem a pureza e a transparência dessa regência.
No dia 25 muitos umbandistas rendem suas preces à Pai Oxalá em razão do sincretismo com Jesus Cristo.
OXALÁ É JESUS?
Oxalá é outro nome para Jesus?
À essa pergunta escutamos constantemente, e a resposta que você médium umbandista precisa ter na ponta da língua é um sonoro e belo NÃO.
- Mas e porque Pai Gutto?
Porque para Jesus irão se criar diversas leituras da sua presença, por exemplo, para o católico ele está como a segunda pessoa da trindade, que seriam as três presenças de Deus manifestados. Pai que corresponde ao Criador, Jesus (que também é Deus) o filho encarnado e o Espírito Santo que é a manifestação (como o nome mesmo já diz) do Espírito de Deus em seus filhos.
E assim Jesus pode ser o Messias para algumas crenças, o Mestre para outras e o Profeta em outras tantas. Na maioria das casas de Umbanda Jesus é entendido como Oxalá e isso acontece em razão das semelhanças entre as qualidades e simbolismos que acabam por aproximar essas duas presenças dentro dessas crenças.
Por exemplo Jesus é a expressão máxima da fé em Deus e Oxalá além de ser o Orixá que ativa a fé dos seres é considerado o primeiro dos Orixás, sendo que na maioria dos Congás ocupa a posição mais alta desse espaço.
No entanto, Oxalá é uma divindade de origem nagô-iorubá e nessa cultura é ele o Rei de Ifé e o responsável pela criação do mundo. Quando trazemos ele para o contexto das religiões nascidas em solo brasileiro ele irá ser entendido de outras formas (assim como falamos sobre
Jesus) e até mesmo dentro da Umbanda ele pode ter compreensões diversas por entre as vertentes disseminadas.
Contudo, Oxalá é Orixá e na Umbanda Orixá é uma qualidade ou fragmento de Deus e como tal não pode ser Jesus, pode sim – como dito – ter particularidades em comum, mas o culto à Oxalá se percebe na Umbanda enquanto divindade de Deus.
Já à Jesus se estabelece na Umbanda a relação de mestre maior, aquele que encarnou para trazer a boa nova e para promover revoluções na concepção de mundo vivida naquele momento.
A fé que eu tenho no meu Orixá
Quanto a outras crenças que cultuam Oxalá teremos a leitura do Candomblé, que também se difere da Umbanda, e isso acontece porque Pai Oxalá não se limita as crenças estabelecidas e é maior que as religiões e suas doutrinas, sendo interpretado de maneiras diferentes por entre elas.
Jesus nessa perspectiva pode ser um filho de Oxalá, um chefe de falange, um mestre ascencionado, um avatar, um espírito em alto grau hierárquico que encarnou já com algum tipo de missão designada, mas ele não se configura como a divindade ou o sentido e o mistério de Deus que rege a fé das pessoas como um Orixá. É comum que as religiões humanizem suas divindades atribuindo aspectos vividos por nós nessa realidade a elas.
Jesus Cristo é a humanização histórica mais conhecida por entre as religiões do mistério de Deus, tido a nós como Oxalá e que emana de si a busca pelo encontro com o Sagrado.
As histórias sobre a passagem de Jesus em terra referem-se exatamente a isso, ao jovem Mestre que conduzia seus discípulos a se transcender em si, reavivando neles a fé em si, em Deus e na manifestação do Pai e cada um de nós.
Esse mistério é tão grande que não se conceitua apenas como a fé nas crenças ou nas religiões, mas a fé na sua verdade, na sua realidade e isso é exemplificado até na função de Oxalá na criação.
Nos mitos o Orixá é descrito como o primeiro dos Orixás, é ele quem cria a realidade do nosso planeta para que depois os outros Orixás possam gerar, ordenar, renovar…
Quem dá sustentação à sua verdade? Quem dá sustentação à sua fé? Quem é aquele que é o regente da verdade, da fé, da esperança, daquilo que acalenta os corações e traz paz para você, para sua comunidade e para todos aqueles que buscam algo maior?
É Oxalá.