Logunan
Mãe cósmica, ou seja, ativa em seu mistério, onde todos os seres influenciados por seu axé são redirecionados a tomada de novas ações, é em si a particularidade de Deus que corresponde ao campo da fé.
Logunã faz par com Oxalá na primeira linha de Umbanda e juntos agem diretamente sob tudo o que compreendemos como realidade. Se somos algo, somos porque acreditamos em algo. Entendemos, compreendemos e depositamos nossa fé nessa realidade e como acreditamos que ela seja.
Essa compreensão de nós e do mundo é mistério de Mãe Logunã. Vocês já ouviram a frase “o mundo não é como ele é, o mundo é como você vê”? Pois bem, quando dizemos isso, estamos vislumbrando o mistério dessa Orixá, que em sua atuação também compreende o nosso sentido de tempo.
Tempo este que nos garante a certeza do ontem, do hoje e do amanhã, e é contando a história dos tempos que o homem consegue se organizar perante a vida. É sob essa contagem que vivemos diariamente, desde os milésimos de segundos até as eras de todos os universos.
Viver em si já é mistério de Mãe Logunã. Vivemos o tempo, contamos meticulosamente o tempo e se os homens não se afenizam em inúmeras questões, entrando em confronto por mínimas convicções, há algo que nenhum deles a nega.
O tempo se prova todos os dias, desde as formas com o qual nossa pele vai se moldando até a máxima expressão em seu deleite: a sabedoria.
Para nós, na Umbanda tempo é Mãe, é a face feminina de Olorum temida pelos enganadores da fé… Sim, Mãe Logunã como primeira linha de Umbanda e assentada no mistério da fé é a responsável por negativar os que se utilizam da fé alheia para ludibriar, manipular, extorquir e garantir lucros a si.
Revelada por Pai Benedito de Aruanda (Preto velho que trabalhava com o mediúm Rubens saraceni), o mistério de Logunã, anteriormente chamada de Oiá-Tempo é “o próprio espaço-tempo onde tudo se manifesta, portanto é uma divindade atemporal, não estando sujeito a ele, mas regendo o seu sincronismo“.
Nos estudos de Rubens Saraceni sobre esse mistério ele traz que é comum as filhas de Mãe Logunã apreciar as coisas religiosas, o estudo, a música suave, um pouco de isolamento, conversas construtivas, a companhia de pessoas discretas e de homens maduros, reservados e amorosos.
Como uma “Orixá nova” a atuação de Logunã sob a vida dos seres além de pouco compreendida também é pouco tratada pelos segmentos de Umbanda, sendo sua presença mais notada dentro da vertente que se disseminou como Umbanda Sagrada.
De acordo com a literatura de Rubens Saraceni, Logunã já teve seu culto largamente praticado nas antigas religiões africanas, mas assim como aconteceu com centenas de outros Orixás o rito em torno dessa divindade foi se perdendo e isso se deve a inúmeras razões, dentre elas, a explicação de que tais cultos foram se degradando, dissipando-se do seu sentido positivo e promovendo a prática banalizada, o que resultou no cessar do acesso a esse mistério às civilizações.
Mãe Logunã então é uma Orixá que se recolheu em seu mistério por muitos anos e muitos anos e que volta a se manifestar – agora na Umbanda – há pouco mais de 10 anos.
“Em mim eu sinto todos os Orixás e então Pai Benedito de Aruanda revela Logunã e eu acendo apenas uma vela e coloco um copo de água e eu sinto…eu sinto Logunã na minha pele, na minha alma e ninguém precisa me dizer se ela existe ou não, eu sinto e é aqui que eu avalio se ela existe na minha vida. ” - Alexandre Cumino durante a Jornada Teologia de Umbanda
Em um sincretismo Santa Clara, encontramos seu dia de comemoração no rito umbandista no mesmo dia que marcou o falecimento da santa católica conhecida por sua fé fervorosa em Jesus Cristo e que mesmo nascida de família nobre, opta – segundo sua história – por abandonar família e um casamento promissor para servir a caridade e o atendimento aos menos favorecidos.